Com Esclerose Múltipla, ultramaratonista desafia doença e promove solidariedade

Agenor Neto
Divulgação

O nome Agenor é de origem grega. Na tradução literal, o significado é “aquele que tem muita força”.

Nunca um nome fez tão sentido a uma pessoa que o Jornal Bahia Online acaba de conhecer: o ultramaratonista Agenor Borges de Carvalho Netto, de 46 anos.

Se para muitos, enfrentar 100 quilômetros de corrida, vencendo sol, chuva, vento, subidas e descidas pode representar um esforço sobrenatural – e muitas vezes inalcançável, imagina para um homem que, 10 anos atrás, após acordar, não conseguiu sair da cama, com parte do corpo paralisada, e com o diagnóstico de Esclerose Múltipla.

Agenor perdeu os movimentos do lado esquerdo, teve paralisia facial e passou a ter dupla visão (diplopia). Com muita fisioterapia, conseguiu, finalmente, perceber uma melhora. Uma pequena melhora. Voltou a enxergar, passou a movimentar novamente o corpo, mas sentia fadiga e formigamento por todo o corpo. A qualquer hora, parte do corpo podia parar, ter novos surtos, por que o corpo nestas condições deixa de produzir uma substância que protege os neurônios. Sabe como ele hoje define a doença? É como se estivesse andando de bicicleta e, de repente, a corrente quebrasse.

Sim, Agenor é, de fato, um homem de muita força. Com cara – e alma - de superação.

Após o diagnóstico, com a ajuda da esposa, descobriu que a atividade física contribuíria para estabilizar a doença. Começou a correr, participando do Grupo de Corrida VO3.

Gostou. Gostou e fez disso um modelo de superação e de vida.

Já participou de quatro maratonas, sendo que uma delas fazia parte do Desafio do Rio 2019 (21km + 42km).  O ano de 2019 foi especial: tornou-se o primeiro brasileiro portador de Esclerose Múltipla a realizar uma Ultramaratona, na Chapada Diamantina, em Mucugê/BA.  Há 6 anos, o atleta coloca a Esclerose Múltipla para correr.

Superação

Vitorioso na vida e nos resultados que já alcançou, o esportista lembra, orgulhoso, de alguns alguns resultados conquistados até aqui: 3° lugar na categoria 16km Trail Run Vitória da Conquista/2018; 5° lugar dupla mista 21km Ultra Trail Chapada Diamantina 2018; 1° lugar na categoria 10km Cacau Running 2019, Ilhéus/BA; 4° lugar geral 21km Desafio Etapa Santa Marta, Vitória da Conquista/2019; 1° lugar masculino - Desafio 100km Pacer Runners, setembro/2019, tendo percorrido 560 km no mês.

Mas à frente dos resultados, há sempre desafios que começam antes mesmo dos quilômetros percorridos a pé: para enfrentar a doença foi preciso buscar uma melhor qualidade de vida. Um neurologista orientou Borges sobre a importância da atividade física. 

Correr, agora, é um prazer. Mas... desafio é uma palavra que passou a fazer parte do cotidiano do atleta.

Orgulho

A educadora Adriana Galo, que também participa do grupo de corrida, elogia o amigo. "Netto é uma pessoa que admiro muito. Primeiro, porque não vê seu problema de saúde como uma limitação; segundo,  porque está sempre a se desafiar sem esquecer os outros, faz questão de estar junto e auxiliar", revela.  Os dois fizeram juntos a primeira Maratona, no RJ; depois, finalizaram juntos a primeira Ultramaratona. "E daí,  ele não parou mais.  Disciplinado,  dedicado,  amante da corrida... é uma honra correr com ele", assegura a professora que, em 2012, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e hoje encara a corrida como medicação.

No final deste ano, Agenor iria realizar outra grande prova. Uma Ultramaratona de 100km . Porém, devido a pandemia da Covid-19, a prova foi adiada para 2021. Para que os atletas não ficassem sem realizar uma prova, a UAI (Ultra dos Anjos Internacional) criou uma de forma virtual da competição. “Você realiza a prova em até 60 horas onde você puder . São vários quilômetros. Porém escolhi e me escrevi em 95 km e devo realizar a prova em 24 horas dentro de Ilhéus”, explica. 

A programação é sair no próximo dia 10, às 8 da manhã, tendo como ponto de partida a Catedral de São Sebastião. O destino é a região do Cururupe. De lá ele retorna e segue até o bairro São Domingos, o outro extremo da cidade.  Fará uma parada obrigatória para hidratação e recuperação. A tarde realizará mais outro percurso até a praia do Sul e uma nova parada obrigatória no início da noite. Depois ficará realizando um percurso do Hotel Opaba, na zona sul, até avenida Litorânea Norte, durante a madrugada. Agenor estima concluir a prova por volta das 8 horas da manhã do dia 11, com chegada na Catedral.

Doação de alimentos

Para além do desafio, Agenor decidiu transformar a prova em parceira da solidariedade. “Resolvi desafiar as pessoas para elas doarem alimentos para que possamos ajudar famílias que estão sendo afetadas pela Covid-19”, explica. Ao calcular a distância a ser percorrida – de 95 Km – ele quer, também, arrecadar 95 quilos de alimentos para montar cestas básicas e distribuir entre famílias necessitadas de Ilhéus e Itabuna.

Durante esta entrevista exclusiva concedida ao Jornal Bahia Online, Agenor parou por alguns segundos logo após fazer a referência entre distância e quilos de alimentos a arrecadar.

Recalculou sua proposta. Percebeu que poderia se superar e aumentar o número de cestas.

Parou... pensou e decidiu. “Maurício (Maron, editor do JBO): ninguém sabe ainda. Só você agora. Eu tinha feito inscrição para 95 km. Mas acabei mudando agora para 135 km. Então, meu desafio não será mais 95 e, sim, 135 km”.

Ou seja: o problema agora é de quem quer ajudar. Terá que buscar mais 40 quilos de alimentos para o objetivo de Agenor. Em Ilhéus, o  local de arrecadação será na Granja RJ, na rua 7 de setembro.  Em Itabuna, falta definir o ponto de arrecadação.

Agenor, “aquele que tem muita força”, acredite: o que não tem é limite.